Uma e outra vez esquecemos
... de contar esses momentos como se dissidentes justificados fossem evidentemente bravos ou simples boas causas1.
Mas é importante lembrar esses momentos tristes onde a perspectiva de uma vitória era inatingível.
Nesses tempos a pose do "como se" tinha de ser mantida até que o seu efeito comulativo pudesse ser sentido. Reconhecido.
Há muitos praticantes famosos do "como se". Outros que nunca viveram o suficiente para viver o seu efeito.
Todos eles ao se comportarem literalmente "como se" agiam ironicamente. Em cada caso, como agora sabemos, a autoridade foi obrigada a agir rudemente e grosseiramente e depois a fazer vista grossa e depois ainda a fazer-se de vítima de vereditos severos para que ficassem para a posteridade. Isto não é evidentemente uma garantia de um resultado e certamente houve dias em que o estilo do "como se" seria excepcionalmente difícil de manter-se.
Pois a única coisa a recomendar, para além de procurar bons exemplos, é cultivar-se alguma desta atitude.
Num dia médio podemos bem encontrar o confronto em algumas espécies de agressividade ou intolerância ou um apelo mal formulado à vontade geral.
A lealdade política pode oferecer um motivo obscuro para concordar com uma mentira ou uma meia-verdade. Um propósito a curto prazo.
Toda a gente cria tácticas para ultrapassar estes momentos incómodos.
Aqui o "como se" ajuda.
Fazer como se esses momentos não precisassem de ser tolerados e que não são inevitáveis.
1. Notas sobre "Letters to a Young Contrarian", Christopher Hitchens
Criado/Created: 01-12-2019 [22:19]
Última actualização/Last updated: 27-11-2024 [17:00]
For attribution, please cite this work as:
Charters, T., "Uma e outra vez esquecemos": https://nexp.pt/ddr/comose.html (01-12-2019 [22:19])
(c) Tiago Charters